O enfornar e cozer da louça

Terminando a tarefa da execução dos vasos, vai a outra fase, o enfornar. Porque o forno é grande, leva cerca de 500 peças. Para o encher juntava-se a louça de diversas louceiras, quando eram muitas. Este trabalho ocupa pelo menos duas mulheres, mas ajudavam mais pessoas, regra geral. Levava cerca de três horas a enfornar. O forno nunca ficava totalmente cheio, porque depois era necessário deitar por cima o borralho. A louça devia estar muito bem “amanhadinha” (composta), para cozer bem. Quanto mais miúda fosse a louça, melhor cozia. A lenha tinha sido trazida do monte, em carros. A fornada leva dois carros de bois. A alenha pode ser de giestas, estevas urzes, ou charguaço. Só se cozia bem com tempo bom, pois a lenha molhada não arde bem.
“Borralhos” – Enfornada a louça, fazia-se a “esfumadela”. Era a primeira fogueira que se fazia na fornalha. A louça aquece-se lentamente para não estoirar. Esta “esfumadela”, mais morosa que os outros borralhos subsequentes, levaria duas horas a fazer. A seguir tira-se o borralho para fora com o “rodo” e apaga-se à entrada da boca do forno, com água. Um homem deitava-o depois pela boca lateral para cima das peças de barro. Este borralho apagado era lançado em maior quantidade nas bordas que no centro do forno. No centro a louça coze melhor que nas bordas e precisa de menos borralho.

Faziam-se mais três borralhos, resultantes do enfornamento de mais lenha, que era empurrada pela boca do forno com uma estaca feita de freixo ou carvalho. Com um ranhadouro levantam-se ao ar os torgos de urze. Uma boa ranhadela aclara mais a louça. O último dos três borralhos chama-se “aclaradela”, porque serve para aclarar a louça.
Depois desta aclaradela não pode haver fumo, caso contrário a louça fica feia. Quanto mais quente estivesse o forno melhor, mais lenha economizava. Um forno já quente pode poupar um “bocal” de lenha, isto é, um borralho.
A louça começa a ser cozida à noite. Se a tarefa estiver terminada à meia noite ou onze horas, no dia seguinte, pela manhã, pode desenfornar-se. Trabalho de mulheres, a louça era apartada, conforme a marca impressa da oleira. Podia ser uma cruz, uma pocinha, etc.
Quando se metia ao forno a louça bem seca, aproveitava-se toda. Havia fornadas em que se estragavam mais de trinta peças.
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Fonte: AFONSO, B. (1981) – A cerâmica artesanal no distrito de Bragança, sua diversidade e extinção gradual, Brigantia, Bragança, vol 0, nº1.