Albertina de Jesus Sá

Como se tivesse sido apenas ontem, Albertina de Jesus Sá, recorda o tempo em que não lhe sobrava vagar para estar quieta, tinha de preparar o barro para a mãe e a tia, as duas cantareiras da família, e auxilia-las em tudo o que necessitassem. Era uma menina quando começou a arte e por isso diz que foi criada “no meio dos cântaros”.

Como se tivesse sido apenas ontem, Albertina de Jesus Sá, recorda o tempo em que não lhe sobrava vagar para estar quieta, tinha de preparar o barro para a mãe e a tia, as duas cantareiras da família, e auxilia-las em tudo o que necessitassem. Era uma menina quando começou a arte e por isso diz que foi criada “no meio dos cântaros”.
 
Foi criada no meio dos cântaros?
Fui, fui criada no meio dos cântaros. A minha mãe fazia os cântaros e uma minha tia também, eu era ganapa e era eu que preparava o barro para elas trabalharem. Aquilo dava muito trabalho. Ia-se a buscar o barro às minas de Paredes, iam com um carro da cria a buscá-lo e depois, antigamente malhavam nas eiras, botava-se lá o barro, depois iam com enxadas espalhar o barro, para o secar.
Depois havia outro material para juntar ao barro que se ia buscar a Izeda. Iam também com um carro da cria, era uma terra muito peganhenta, tinha de ficar de um dia para outro num “masseirão”, uma pia de cantaria, deixava-se lá a molhar para o outro dia, mexia-se até que ficava grosso, até lhe chamavam o grosso. Depois era passado por umas vassouras que lhe chamavam “chavascas”, tal e qual como estou a contar, passava-se pela vassoura e depois é que se juntava ao barro.
O barro com um maço de madeira esfregava-se em cima de umas pedras, até o deixar a ponto de o peneirar como uma peneira da farinha do pão, depois é que se amassava. Dava muito trabalho, era preciso ter pulso para bater aquelas bolas de barro, faziam as bolas de barro, a bater depois é que iam para a roda.
Eu fazia isso tudo, amassava o barro, punha-lho ao pé delas (as cantareiras) e tinha de dar à roda, elas faziam e eu tinha de as ajudar.
 
Era necessário estar sempre uma pessoa a dar à roda?
Sempre! Sentava-me lá, tirava-lhe os cacos e dava à roda.
Elas primeiro faziam o fundo, depois mais um patamar, deixam secar um bocadinho depois faziam “boujaro”, deixavam-no secar também um bocadinho e depois é que lhe punham o pescoço e as asas.
E eu sempre ao pé delas, todo o dia ali ao pé, e não estava quieta, não me deixavam estar.
 
Que idade tinha?
Tinha ai 12 ou 13 anos, nem sequer teria tanto.
Fiz muitos anos eu nasci e criei-me ao pé da roda, a andar à roda.
Nessa altura havia muita cantareira?
Eu lembro-me de dez cantareiras.
 
E já faziam as cantarinhas pequeninas?
As pequeninas faziam-se, ainda as faziam mais pequenininhas, nem sequer sei como fazia aquilo. Faziam-nas para a Santa Cruz.
 
E para que serviam?
Era só para uma recordação.
A minha mãe fazia umas cântaras grandinhas e punha-lhe um bico, quatro asinhas, duas grandes e duas pequeninas, muito lindas. Não fiquei com nenhuma. Quem se lembrava que o barro tinha agora tanto valor? Nós não ficamos com nada. Se fosse agora tinha guardado, naquela altura ninguém ligava.
 
Ainda foi vender a louça às feiras?
Eu já não fui a vendê-las, depois já se vendiam cá no povo às fornadas. Chamávamos-lhe fornadas porque era muita louça.
As mulheres coziam depois a louça toda lá em baixo no forno, traziam carradas de urzes, depois nós íamos aos tropeços a buscar água para apagar as chamas e fazer o borralho, para depois pôr aquelas brasas por cima da louça. Juntava-se muita gente para ver o forno a cozer. Aquilo era bonito, mas dava muito trabalho. Tinha de se trazer a louça toda, algumas do fundo do povo, duas ou três cantaras de cada vez, eram pesadas.
Mas tinha de ser, era o sustento.
Antigamente era muito trabalho e pouquinho o que se ganhava.
 
Tem pena que tudo isso tenha acabado?
Tenho pena de não ter praticado ao pé delas, era uma coisa importante, consolavam-me estar a maçar o barro e vir-me aquele cheiro do barro ao nariz.
Além que era trabalho que eu na altura não gostava muito. Mas agora tenho saudades. A minha mãe fazia umas cântaras muito bem feitinhas, muito bonitas, dava gosto, até encantavam.
Era com o que a gente acarretava a água para casa para o consumo, que ia a gente aos fontanários.

 

2015-06-08T13:34:41+00:00

 

Como se tivesse sido apenas ontem, Albertina de Jesus Sá, recorda o tempo em que não lhe sobrava vagar para estar quieta, tinha de preparar o barro para a mãe e a tia, as duas cantareiras da família, e auxilia-las em tudo o que necessitassem. Era uma menina quando começou a arte e por isso diz que foi criada “no meio dos cântaros”. Como se tivesse sido apenas ontem, Albertina de Jesus Sá, recorda o tempo em que não lhe sobrava vagar para estar quieta, tinha de preparar o barro para a mãe e a tia, as duas cantareiras da família, e auxilia-las em tudo o que necessitassem. Era uma menina quando começou a arte e por isso diz que foi criada “no meio dos cântaros”.   Foi criada no meio dos cântaros? Fui, fui criada no meio dos cântaros. A minha mãe fazia os cântaros e uma minha tia também, eu era ganapa e era eu que preparava o barro para elas trabalharem. Aquilo dava muito trabalho. Ia-se a buscar o barro às minas de Paredes, iam com um carro da cria a buscá-lo e depois, antigamente malhavam nas eiras, botava-se lá o barro, depois iam com enxadas espalhar o barro, para o secar. Depois havia outro material para juntar ao barro que se ia buscar a Izeda. Iam também com um carro da cria, era uma terra muito peganhenta, tinha de ficar de um dia para outro num “masseirão”, uma pia de cantaria, deixava-se lá a molhar para o outro dia, mexia-se até que ficava grosso, até lhe chamavam o grosso. Depois era passado por umas vassouras que lhe chamavam “chavascas”, tal e qual como estou a contar, passava-se pela vassoura e depois é que se juntava ao barro. O barro com um maço de madeira esfregava-se em...