Maria Cândida Afonso

(92 anos)
Do alto dos seus 92 anos Maria Cândida Afonso recorda o seu tempo de meninez em que, como tantas outras mulheres de Pinela, tinha de trabalhar no barro, mesmo não sendo cantareira.

 
A senhora não era cantareira e também trabalhava no barro, então o que fazia?
O meu trabalho era maçar o barro mas também fazia outras coisas…
 
Como era isso de maçar o barro?
Olhe, era com um maço (moca), como aqueles onde batem os carros, para fazerem os carros, assim a esfrega-lo na pedra e depois amassava-o e peneirava-o com a peneira (…) era uma peneira das do pão (…) não podia passar um cisquinho, um cisquinho que fosse, ia a minha irmã com as mãos por dentro, logo encontrava o serviço mal feito e se o fizesse mal fazia-me tornar lá com ele. Eu queria ir à jeira, para ganhar dinheiro para mim, mas ela sem deixar ali o barrinho amanhado não me deixava ir.
 
Também ia buscar o grosso?
Ia, entre Izeda e Calvelhe e a Sanceriz e a Gralhós… a cavalo num burro, íamos eu e o pai da Dorinda todas as semanas lá, ele trazia duas cargas e eu trazia uma para a minha irmã, que a minha irmã só trabalhava ela e na casa da Dorinda trabalhava a avó e a tia Maria e a mãe (…), faziam uma carga de louça por dia aquelas mulheres…, a minha queria tudo bem feitinho, aquelas botavam para diante, para diante, para diante, porque, coitadinhas, queriam fazer muito.
 
Demorava muito tempo para ir a Izeda buscar o grosso?
Gastávamos um dia, ia eu e o pai dela (da Dorinda), eu ainda era novita, o nosso burro era forte, atirava comigo para cima da carga, lá vinha eu como os tendeiros de antes que andavam pelas portas, assim vinha eu lá em cima das sacas.
 
Que idade tinha?
Tinha por aí alguns doze anos, já andava com essa bolha… Ia às feiras, ainda íamos à Torre de Dona Chama, a Vinhais, à feira de Vinhais, eu e o tal homem.
 
Sempre de burro?
Em cima de um burro, uma saca de um lado e outra saca do outro, empalhávamo-las com palha, para que não se esboçasse a louça.
A Louça era uma arte só de cá… que era uma arte bem boa, e eu gostava bem dela…
 
Guarda muitas memórias desse tempo?
Pois guardo (…) às vezes mandavam-me à fonte e escacava dois ou três cântaros no caminho, porque davam-me os ruins e criam vender os bons e depois desfaziam-se-me nas mãos, não se aguentavam com a água. Eu vinha ali à fonte, morava ao pé da igreja, não chegava a casa com coisa nenhuma, elas vazavam (…)
A gente tinha que furar muito para viver!
2015-06-08T16:47:47+00:00
(92 anos) Do alto dos seus 92 anos Maria Cândida Afonso recorda o seu tempo de meninez em que, como tantas outras mulheres de Pinela, tinha de trabalhar no barro, mesmo não sendo cantareira.   A senhora não era cantareira e também trabalhava no barro, então o que fazia? O meu trabalho era maçar o barro mas também fazia outras coisas…   Como era isso de maçar o barro? Olhe, era com um maço (moca), como aqueles onde batem os carros, para fazerem os carros, assim a esfrega-lo na pedra e depois amassava-o e peneirava-o com a peneira (…) era uma peneira das do pão (…) não podia passar um cisquinho, um cisquinho que fosse, ia a minha irmã com as mãos por dentro, logo encontrava o serviço mal feito e se o fizesse mal fazia-me tornar lá com ele. Eu queria ir à jeira, para ganhar dinheiro para mim, mas ela sem deixar ali o barrinho amanhado não me deixava ir.   Também ia buscar o grosso? Ia, entre Izeda e Calvelhe e a Sanceriz e a Gralhós… a cavalo num burro, íamos eu e o pai da Dorinda todas as semanas lá, ele trazia duas cargas e eu trazia uma para a minha irmã, que a minha irmã só trabalhava ela e na casa da Dorinda trabalhava a avó e a tia Maria e a mãe (…), faziam uma carga de louça por dia aquelas mulheres…, a minha queria tudo bem feitinho, aquelas botavam para diante, para diante, para diante, porque, coitadinhas, queriam fazer muito.   Demorava muito tempo para ir a Izeda buscar o grosso? Gastávamos um dia, ia eu e o pai dela (da Dorinda), eu ainda era novita, o nosso burro era forte, atirava comigo para cima da carga, lá vinha eu como os tendeiros...