Maria Antónia da Costa

Maria Antónia da Costa nunca foi louceira, desde moça começou a trabalhar nas minas de Paredes. A arte de trabalhar o barro e as minas foram durante muitos anos as duas principais fontes de sustento da população de Pinela.
 
A dona Antónia também foi louceira?
Não nunca fui, eu trabalhava nas minas mas havia muita, muita, muita louceira a fazer cântaros e cantarinhas de toda a qualidade, aqui em Pinela. Cada casa tinha pelo menos uma mulher a fazer cântaras.
 
E recorda-se do que era preciso para fazer a louça?
Ui dava muito trabalho! Iam buscar o barro a Paredes, às minas, e o grosso, para engrossar a água, iam a Izeda. Depois tinham de o peneirar, de o amassar e de fazer as cântaras. Depois juntavam-se duas ou três, ou mais, e iam cozer as fornadas juntas.
 
E para que queriam tanta louça?
Para vender, era do que se governava a gente, era de vender, iam às feiras e vendiam. Algumas pessoas vinham cá comprar, vinham ali de Argozelo aqui a comprar cargas de louça.
 
A louça era feita só pelas mulheres?
Era sim, cá eram só as mulheres, na Espanha há muitos homens a trabalhar o barro, eu já lá estive e vi, mas aqui em Pinela eram só as mulheres. Os homens ajudavam, iam apanhar o barro, estendiam-no nas eiras para secar bem sequinho…
 
Todos usavam o forno comunitário?
Era sim, tínhamos dois, eram dois(…) Naquele tempo havia muito garoto, andava tudo a apanhar as louças para as louceiras, para o forno. Enfornavam e à noite coziam, juntava-se lá o povo todo a ver aquela louça a cozer, pois…
 
Era preciso muita lenha?
Ui, muita… Traziam muitas urzes, dois ou três carros delas para cozer a louça.
 
E agora já não há louceiras?
Já há muito tempo que faleceu tudo, as louceiras faleceram, pronto acabou! As novas não quiseram aprender, foi o que fizeram de mal…
 
Lamenta?
Eu tenho pena decerto, porque era uma coisa bonita. À minha porta estavam lá três louceiras diariamente a fazer louça, moravam ali e estavam debaixo de um negrilho, à sombra, faziam ali a louça na rua, faziam-na no Verão. E eu também me sentava lá ao pé delas a fazer outras coisas, a minha arte não era essa…

2015-06-08T16:41:48+00:00
Maria Antónia da Costa nunca foi louceira, desde moça começou a trabalhar nas minas de Paredes. A arte de trabalhar o barro e as minas foram durante muitos anos as duas principais fontes de sustento da população de Pinela.   A dona Antónia também foi louceira? Não nunca fui, eu trabalhava nas minas mas havia muita, muita, muita louceira a fazer cântaros e cantarinhas de toda a qualidade, aqui em Pinela. Cada casa tinha pelo menos uma mulher a fazer cântaras.   E recorda-se do que era preciso para fazer a louça? Ui dava muito trabalho! Iam buscar o barro a Paredes, às minas, e o grosso, para engrossar a água, iam a Izeda. Depois tinham de o peneirar, de o amassar e de fazer as cântaras. Depois juntavam-se duas ou três, ou mais, e iam cozer as fornadas juntas.   E para que queriam tanta louça? Para vender, era do que se governava a gente, era de vender, iam às feiras e vendiam. Algumas pessoas vinham cá comprar, vinham ali de Argozelo aqui a comprar cargas de louça.   A louça era feita só pelas mulheres? Era sim, cá eram só as mulheres, na Espanha há muitos homens a trabalhar o barro, eu já lá estive e vi, mas aqui em Pinela eram só as mulheres. Os homens ajudavam, iam apanhar o barro, estendiam-no nas eiras para secar bem sequinho…   Todos usavam o forno comunitário? Era sim, tínhamos dois, eram dois(…) Naquele tempo havia muito garoto, andava tudo a apanhar as louças para as louceiras, para o forno. Enfornavam e à noite coziam, juntava-se lá o povo todo a ver aquela louça a cozer, pois…   Era preciso muita lenha? Ui, muita… Traziam muitas urzes, dois ou três carros delas para cozer a louça.   E agora já...